12 abril, 2006

CONTOS DE UM VELHO CARVALHO



Deve ter tantas e lindas histórias para contar, o velho carvalho com cerca de 100 anos, ali no pátio do Museu; olhando frondosamente os campos do Sorraia, namorando nas noites quentes de Verão as musas atrevidas que passeiam sobre as ondas das águas tépidas do rio, a uns escassos metros.
O velho carvalho conhece as mais nobres histórias; histórias de amor e de dor, atrevidas ou secretas, alegres e melancólicas, felizes ou sofridas.
Aves ao longo de décadas e décadas, construíram ninhos nos mais altos ramos, soltando cantares por entre a verde ramagem.
Ouviu lindas melodias, na sua acolhedora sombra cantadas pelos trovadores, encantados por sons de flautas, guitarras, concertinas. Viu os barcos Sorraia acima e abaixo, ou fundeados no porto Zambado; viu as águas correndo em fúria nos tempos de cheia, e também as areias em verões escaldantes num leito quase seco em tantos Julhos e Agostos. Observou aqueles que na campina verdejante da outra margem trabalhavam as searas. Viu partir Afonso que o regou e ajudou a crescer, e outros tantos outros que o regaram e ajudaram a crescer.
Despediu-se do artista, que na oficina ao lado, gravava a imaginação em cada obra de arte.
Numa destas últimas tardes ficou a observar um pensador, viajando à velocidade do pensamento, saltitando de estrela em estrela, da Alfa do Centauro à Sírios, da Antares à Riguel, descobrindo Quazars passeando desde a distante Berenice até ao imaginário sem limites; mas de vez em quando poisa entre as verdejantes folhas do já quase lendário Carvalho no pátio do museu onde deixou sua indelével marca.
Mistura-se com as aves, acompanha o seu canto e esvoaça com elas por entre a folhagem, de ramo em ramo, depois voa no seu cavalo alado, sempre à velocidade do pensamento.
No museu, também dele, deixou gravado o nome nas paredes, no auditório, nas salas, nos cláustros.
Regressa sempre ao Velho Carvalho, onde, sem nos apercebermos fica por instantes sorrindo-nos num dos ramos mais altos, lendo o nosso pensamento, escutando o som da brisa, e olhando os campos floridos na eterna sequência do tempo a caminho do infinito.
Conquistou a nossa simpatia, como toda a gente de bem sabe conquistar! Deixou lições e ideias, para inspirar os que ficam esperando que um dia qualquer um cavalo alado os leve a passear através universo sem fim.